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Tanto projeto interessante para ser criado, tanta coisa para se trabalhar e o deputado Ivan Naatz apresentou essa semana uma proposta para mudar o Hino do Estado do Santa Catarina.

O parlamentar tem vários projetos interessantes, basta acessar aqui . Tem um que acho ótimo sobre a criação do 0800 para os horrorosos atendimentos prestados pelas empresas de televisão e internet por assinaturas. Só que desta vez quer promover uma audiência pública para debater a realização de um concurso. Também gosto da ideia de criar uma comissão de Bem Estar Animal dentro da Alesc, como vi por aqui.

Mas… Trabalhar comissões e audiências e criar um concurso só para mudar o hino? É um desperdício de tempo e de ideias, por parte de um parlamentar tão atuante e combativo. No tal concurso, a nova canção deve abordar obrigatoriamente em sua letra “temas como o potencial histórico, econômico e cultural do Estado, além da geografia e as belezas naturais, entre outros temas nativos”.

Ivan Naatz justificou que apesar de ser considerado um símbolo do Estado, o atual hino foi escrito num determinado momento histórico e político do país, no século 19, e que em nada retrata os valores e potencial catarinense, além de nunca ter sido motivador do civismo e caído no gosto e na memória popular (sic). “É notório que a grande maioria dos catarinenses não se sentem representados pelo hino e consequentemente não tem a letra na memória, o que pode ser verificado nos diversos eventos públicos em que é obrigatória a sua execução”, acrescentou.

O Naatz recebeu apoio dos deputados Antidio Lunelli (MDB), repórter Sérgio Guimarãens (União) e Emerson Stein (MDB). Todos concordaram com a necessidade de ampliar o debate em torno de buscar maior popularidade para o hino oficial de Santa Catarina.

Popularidade do hino? Põe no Tik Tok, no shorts.

Eu acho, só acho, que temos temos muito mais relevantes para se tratar atualmente do que criar uma audiência pública para mudar um hino.

Poderiam por exemplo, dar um pulo ali no Instituto Estadual de Educação, bem pertinho da Assembleia Legislativa, e ver de perto a situação das salas de aula e dos banheiros da ala do ensino fundamental. Eu contei a história aqui.

Poderiam por exemplo, criar uma proposta ou projeto para melhorar as condições do Recanto do Carinho, que abriga várias crianças e necessita ficar com o pires na mão pedindo café, açúcar e filtro.

Podiam criar uma lei penalizando órgãos e empresas que contribuem com a proliferação do mosquito da dengue (digo penalizar porque em anos de trabalho na Secretaria de Estado da Saúde vi que conscientização parece não adiantar mais nada).

Poderiam investir a energia na ampliação de um projeto de apadrinhamento de crianças em situação de vulnerabilidade ou órfãs. Num programa que dê emprego, estágio ou vaga na universidade para aqueles que não conseguem uma família adotiva e, aos 18 anos, precisam sair do abrigo e seguir a vida.

Seguir a vida.

Sei lá.

Um concurso para fazer um hino falando de heranças culturais, européias, tainhas, Oktoberfest, o jet set de Jurerê e da Dubai catarinense e etc e etc… Tem os setores que apoiam e defendem, segundo o parlamentar. Eu não vejo urgência e me desculpe a ignorância, tanta relevância neste tema.

O hino do estado de Santa Catarina foi introduzido em 1892 e sancionado por lei estadual em 6 de setembro de 1895 durante o governo de Hercílio Luz. Tem letra de Horácio Nunes Pires e música de José Brazilício de Souza. Sua letra apresenta um aspecto geral abolicionista, e talvez por isso seja considerado pouco representativa das características que marcam a história do estado (sic).

O hino está abaixo do texto… Li a primeira vez e pensei, “nossa, como é antiquado”. Li a segunda e já fiquei com a pulga atrás da orelha. Agora olho bem e ele fala de escravidão, abolição, glórias e redenção.

Olha esse trecho:

Quebrou-se a algema do escravo
E nesta grande nação
É cada homem um bravo
Cada bravo, um cidadão

Li e reli esse trecho e me veio à cabeça a história amplamente divulgada na mídia na semana passada, dos trabalhadores em situação análoga à escravidão em empresa contratada pela prefeitura de Joinville. Também contei por aqui e por aqui. Veio à minha cabeça também a imagem de dezenas de pessoas que vejo diariamente dormindo nas ruas no centro da Florianópolis que não aparece na mídia.

O texto do Hino de Santa Catarina não reflete realmente o que o somos. Com certeza.

Quebraram as algemas dos escravos?
Cada homem por si é um bravo? É um cidadão?

Somos cidadãos, no aspecto claro do dicionário e da Constituição? Ou seja,
usufruimos de nossos direitos civis e políticos em sua totalidade?

Temos acesso completo à Educação, à Saúde, à Justiça Social, ao saneamento básico?

Como fica? E a crítica não é só a SC, mas ao país. Deixo isso claro antes que alguém cheio de argumentos me mande morar no Nordeste ou em Orlando.

O Hino de Santa Catarina, abolicionista, não é ultrapassado.

Sua letra é uma utopia.

Hino

Sagremos num hino de estrelas e flores
Num canto sublime de glórias e luz
As festas que os livres frementes de ardores
Celebram nas terras gigantes da cruz

Quebram-se férreas cadeias
Rojam algemas no chão
Do povo nas epopeias
Fulge a luz da redenção

Quebram-se férreas cadeias
Rojam algemas no chão
Do povo nas epopeias
Fulge a luz da redenção

O povo que é grande, mas não vingativo
Que nunca a justiça e o direito calcou
Com flores e festas, deu vida ao cativo
Com festas e flores, o trono esmagou

Quebrou-se a algema do escravo
E nesta grande nação
É cada homem um bravo
Cada bravo, um cidadão

Quebrou-se a algema do escravo
E nesta grande nação
É cada homem um bravo
Cada bravo, um cidadão

E você? O que acha sobre essa mudança?

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