Prosseguindo com sua veia inovadora, Santa Catarina adotou uma nova prática de ensino no Instituto Estadual de Educação, maior unidade pública da rede estadual, o programa Escola Sem Livros.
Parece pegadinha de Primeiro de Abril, mas é verdade.
Depois de dois meses do início do ano letivo, as crianças do IEE continuam sem livros didáticos para estudar. A situação foi constatada por esta mesma pessoa que vos escreve, junto a pais, professores e alunos da 4a série do ensino fundamental.
O resultado desse total desprezo pelo ensino público é que professores necessitam “rebolar” para passar conteúdo. O interesse e desempenho, sem atividades lúdicas e livros, cai assustadoramente. Falei com professores, que logicamente pediram para não ser identificados. Eles explicaram que lecionar sem material didático chega a ser humilhante.
“O conteúdo de matemática e português é plenamente possível de ser passado sem maiores perdas mesmo os estudantes estando sem livros didáticos. Mas em matérias como História, já perdemos dois meses sem o material adequado”, relatou um deles. “É muito difícil e improdutivo. As crianças passam grande parte do tempo copiando conteúdos do quadro, o que poderia ser evitado se contássemos com livros didáticos para ensino”.
Percebam que não estou falando de qualquer escola. Estou falando do Instituto de Educação, unidade centenária e maior colégio público da América Latina, com cinco mil alunos e centenas de servidores.
Um pai me relatou que a direção teria tido que os livros “estariam chegando”. Mas que os filhos estão visivelmente mais atrasados do que coleguinhas que frequentam outras escolas.
Lamentável que durante a semana, essa semana mesmo, fizeram um grande estardalhaço por causa da criação de um Fórum Parlamentar em Defesa das Instituições Comunitárias de Ensino Superior de Santa Catarina na Assembleia Legislativa. E mais debate por causa da proposta da Universidade Gratuita, a bandeira de campanha do governo Jorginho Mello.
Sem contar no polêmico e mal explicado corte do Bolsa Estudante, ato que inclusive o Ministério Público pediu explicações ao governo do Estado.
Se o pedreiro Tião estivesse por aqui, com toda sabedoria diria que ´parece que o governo do Estado está tentando construir o segundo andar de uma casa antes de terminar os alicerces do primeiro.
Que tipo de estudante vai chegar nessa vaga “comprada” junto ao Sistema Acafe? A que fez a terceira e quarta série na Escola Sem Livro? Que tipo de profissional teremos no mercado?
Fiz contato no dia 2 de março com a assessoria da Secretaria de Estado da Educação indagando sobre as condições do IEE e também sobre a falta de livros didáticos. No dia 13, recebi a resposta de que “os livros enviados pelo MEC, de acordo com solicitação de cada escola”.
Venho ao mesmo tempo questionando o Ministério da Educação e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Falei com a assessoria de imprensa, que pediu um mail com os questionamentos. Foi enviado no dia 9 de março. Nada de resposta. Liguei e disseram que não haviam recebido. Mandei o outro. Esta semana questionei de novo. Me informaram que a resposta viria em até uma hora. Isso era segunda-feira, dia 27 de março.
Como ninguém responder, dane-se o jornalismo de ouvir todos os lados. Enquanto fico esperando as crianças continuam na Escola Sem Livros.
Para ilustrar ainda mais o absurdo, também circula nas redes sociais um vídeo do secretário de Estado da Educação, Aristides Cimadon, ao lado da secretária adjunta, Patrícia Lueders, dizendo não concordar com proibições nas escolas, como pastéis, feijoada, quentão e chope. E que a probição seria uma forma de não “envolver a família e sociedade na escola”.
Se eu falasse que todo essa questão do IEE é um desrespeito dos “gestores” – das duas esferas, seria um elogio.
Isso é tratar as crianças que frequentam o ensino público de Santa Catarina como um lixo, como já contei aqui. Como estudantes à margem da sociedade. Perde-se tempo e gasta-se energia com portarias inócuas, debatendo festas e chopes, gasta-se horas explicando projetos até então delirantes, quando o problema está escancarado à frente de todos. A um quarteirão da Alesc e cinco quadras da SED.
O que não pode nunca ser proibido em escolas são os livros, nobre secretário. Os livros…
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